Crianças têm acesso à alfabetização emocional e coaching integral, num trabalho que pode prevenir a marginalidade e estimular o desenvolvimento social e empreendedorismo

Identificar e desenvolver emoções positivas, reconhecer e eliminar sentimentos prejudiciais. Uma nova abordagem psicológica que promete potencializar talentos e reduzir os estímulos à marginalidade está sendo aplicada numa creche no Morro do Papagaio, comunidade de baixa renda na região Centro-Sul de Belo Horizonte. Cerca de 200 crianças de 1 a 5 anos são acompanhadas por uma equipe de psicólogos, num trabalho que também envolve professores e as famílias dos alunos.

Trata-se da ‘alfabetização emocional’, uma abordagem desenvolvida pela psicóloga mineira Raquel Araújo, diretora do Projeto Psicossocial Vida Feliz. Desde agosto de 2017, ela e sua equipe atuam na creche Morada Nova, num trabalho que também inclui o método do Coaching Integral Sistêmico. Agora o projeto Vida Feliz incia uma nova fase, com ampliação para mais instituições de ensino, divulgando a nova proposta que muito tem a acrescentar na formação educacional e cidadã.

A abordagem inovadora é fruto de 26 anos de experiência clínica e baseada em estudos do psiquiatra austríaco Viktor Frankl, do psicoterapeuta suíço Carl Jung, de Sigmund Freud, da psicopedagoga argentina Alicia Fernández e do escritor americano Daniel Goleman. Consiste na identificação da emoção dominante, que influencia o comportamento social, eliminando as negativas, como ira, tristeza, inferioridade e rejeição, e ampliando as positivas, como alegria e companheirismo. Quando aplicada em crianças, resulta numa prevenção de traumas, com grandes benefícios pessoais.

“Crianças com alto grau de emoções dominantes de distanciamento social podem resultar na manutenção de um comportamento marginal, quando adolescentes e adultos. Se as emoções negativas forem eliminadas de forma adequada, corta-se pela raiz a possibilidade de tornar-se um marginal”, afirma Raquel.

Segundo a psicóloga, se a abordagem for aplicada até os oito anos de idade, é viável a prevenção de condutas inadequadas socialmente; após essa idade, a alfabetização emocional pode ser utilizada como terapia curativa. Da mesma forma, emoções positivas podem ser maximizadas na descoberta de capacidades naturais do indivíduo.

“Na identificação de dons específicos de arte e talentos intelectuais, a alfabetização emocional pode gerar seres autônomos e responsáveis, num exercício de cidadania inconsciente. Pelo autoconhecimento, configura-se uma pessoa menos alienada e mais consciente de suas competências inatas”, diz.

Experiência em BH

No projeto Vida Feliz, a alfabetização emocional é aplicada primeiro em oficinas com os professores das crianças, que são treinados para identificar as emoções dominantes nos alunos. Na sequência, os pequenos são atendidos pelos membros da entidade, trabalho que também pode ser aplicado aos familiares. A oferta de cursos profissionalizantes e realização de atividades culturais são ferramentas auxiliares do método.

Num outro eixo de atuação, o Vida Feliz também aplica na comunidade o coaching integral sistêmico, aplicação de ferramentas para o desenvolvimento da inteligência emocional. Os coaches são realizados em três níveis: professores, pais e numa incubadora de negócios. Numa segunda fase, após identificar competências positivas dos pais das crianças, os membros pretendem incentivar  o empreendedorismo, para uma completa transformação social no meio.

“Nossa ideia é agregar a alfabetização emocional com técnicas de coaching para inserir nos interessados o ‘poder da ação’, para a busca de uma transformação de vida, por exemplo,  na geração de negócios”, planeja Cláudio Tavares, coaching integral do projeto Vida Feliz.

Expansão

Com os resultados positivos já obtidos numa das creches do Morro do Papagaio, o desafio agora é expandir o trabalho. Cinco instituições de ensino da comunidade estão interessadas em receber o projeto. Dessa forma, há possibilidade de ampliar o alcance para até 1,7 mil pessoas da região.

No próximo 21 de novembro, o Vida Feliz abre um processo de crowdfunding para financiar a expansão do trabalho. Na mesma data, a psicóloga lança seu site para divulgar a abordagem de alfabetização emocional para um público mais amplo. Os lançamentos ocorrem na sede do Projeto Psicossocial Vida Feliz, no bairro Prado, Região Oeste de Belo Horizonte.