Analisar as histórias que fazem o nosso passado é um exercício de grande aprendizagem para o desenvolvimento de nossa espiritualidade. Delas podemos tirar reflexões, ensinamentos que nos levam a repensar nossas atitudes hoje. Muitas vezes cometemos os mesmos erros dos antepassados e precisamos nos libertar disso. Todavia, não são somente as histórias reais nos ensinam, mas também as histórias fantasiosas, aquelas que convencionamos chamar de mitos. O que isso tem a ver com a realidade? O que são as parábolas de Jesus, senão mitos, fatos nunca acontecidos, mas repletos de sentido de vida?
Pense um pouco em cada parábola contada nos Evangelhos. Elas não têm compromisso algum com fatos históricos, mas com a transformação do coração humano. A mensagem trazida por cada uma delas promove isso. Quem escuta esta mensagem e a coloca em prática, tem seu coração transformado. Um aprendizado espiritual é, portanto, algo exigente. Consiste em acolher uma mensagem de profundidade, inclusiva, abrangente. Os personagens, o tempo e os fatos são irrisórios diante da obra de transformação ocorrida.
As histórias reais também têm ensinamentos a transmitir, estes falam de experiência de vida. Muitas experiências não deram certo, resultaram em fracassos e frustrações. Tais fatos e sentimentos podem gerar o desejo de desistência perante os desafios da vida. Outras experiências foram bem sucedidas e podem gerar sentimentos contrários. Alguém com muitas experiências bem sucedidas tende a acreditar que tudo vai dar certo por mero hábito. Mas, há um perigo potencial nisso. O hábito não pode ser tomado como garantia de sucesso.
Alguém que se apega ao sucesso e o baseia na crença fundamentada em sucessos anteriores está sujeito a uma forte desilusão quando descobrir que o alicerce no qual se apoia não é de concreto, mas de espuma. Este sucesso perde sua estabilidade e as paredes sustentadas por ele aproximam-se da ruína.
Alguém que se apega ao insucesso e o baseia na crença fundamentada em insucessos anteriores está sujeito a uma forte desilusão quando descobrir que está colocando seu apego em algo tão frágil e tão passageiro. No sentimento de que nada mais de pior pode lhe acontecer, este alguém vai descobrir que outros estão suportando um fardo muito maior do que o seu, algo que poderá ser um incentivo para reverter suas escolhas e buscar forças para superar suas dificuldades.
A espiritualidade está sempre a nos ensinar. Ela é a dimensão do enigma por excelência. “Do comedor saiu comida e do forte saiu doçura”. Situação atípica, jamais esperada. O enigma da espiritualidade vem para nos refazer, para nos corrigir em nossas imperfeições, para clarear nossa consciência sobre nossa real dignidade de seres humanos. Sendo assim, basta cultivar contato profundo, constante e pleno nesta dimensão, para que a profundidade de seus enigmas possa ir tocando a individualidade humana e produzindo nela uma ação de aprendizado e de transformação.