Espiritualidade é algo marcante no ser humano, uma de suas dimensões, fundamental
para garantir seu equilíbrio vital. Vamos ver como ela se configura e como podemos nos
contatar com ela.

Para a revelação cristã, Deus é espirito e somos filhos dele. Assim, apesar de, aparentemente,  só vermos o corpo e compreendermos que temos mente, para o cristianismo, somos,  essencialmente, seres espirituais. Aqui podemos dizer que espiritualidade é a nossa herança  divina, a nossa identificação com Deus. Para a terceira escola de psicologia vienense,  a logoterapia, a espiritualidade é a dimensão formadora do ser humano, tanto quanto o corpo e a mente são.

Esta dimensão tem como conteúdo essencial, dentre outros aspectos, o amor, a capacidade humana de se comunicar, inclusive com o transcendente, Deus, para as religiões. Portanto, aqui se encaixam as religiões, elas oferecem recursos para desenvolver a espiritualidade.

Assim como as escolas oferecem recursos de aprendizado mental, as religiões oferecem recursos de aprendizado espiritual. As escolas não nos dão inteligência, nós já a possuímos e podemos desenvolvê-la mais e mais com a participação nas aulas bem como pela utilização de todos os recursos didáticos que a escola nos oferece. Da mesma forma, as religiões não nos dão espiritualidade, elas nos ensinam como desenvolver nossas potencialidades espirituais como engajamento comunitário.

Exemplificando, se estou falando de espiritualidade estou falando da minha essência, do meu “tempero”, da sua essência, do seu “tempero”. Para a terceira escola de psicologia vienense, a logoterapia, que é uma escola postulada pelo psiquiatra e filósofo Viktor Frankl, um vienense, um pesquisador, não só médico, mas um pesquisador, a essência do ser humano é a espiritualidade.

Como ele começou a postular isso? Como médico psiquiatra, ele começou a perceber que alguns pacientes recebiam intervenções medicamentosas e melhoravam de alguma queixa; outros pacientes com a mesma queixa recebiam intervenções de medicamentos e de psicoterapias, de trabalhos da psicologia e melhoravam; outros pacientes recebiam intervenção de medicamento, de psicoterapia e apesar de ter a mesma queixa, o mesmo sintoma, não melhoravam.

Então ele começou a postular a hipótese de que havia uma terceira dimensão que atuava na formação da personalidade humana, à qual ele chamou de noológica, “nous” quer dizer espirito em grego. Viktor Frankl era judeu, na época da 2ª (segunda) guerra ele foi preso nos campos de concentração, perdeu toda a sua família, mas superou a dor do campo de concentração. Lá ele observava o comportamento dos seus colegas, percebia que algumas pessoas entravam em desespero, em desequilíbrio ou tinham até mesmo colapsos que levavam ao óbito antes mesmo de ir para o holocausto; outras pessoas se tornavam muito agressivas; outras, ainda, se tornavam mais compassivas; enfim, ele foi percebendo que as pessoas reagiam de forma diferenciada sob o mesmo estímulo, neste caso, o campo de concentração.

Nessa observação ele foi vendo que as pessoas que tinham contato com o transcendente, com o divino, tinham mais força. Pessoas cuja espiritualidade estava mais diretamente ligada à força divina tinham como superar os horrores do campo de concentração e até mesmo serem mais humanas, mais compassivas, conseguindo sobreviver ao campo, assim como ele.

Depois que terminou a guerra, ele fundou esta escola de psicologia postulando que a
espiritualidade é a essência do ser, uma das 3 (três) dimensões formadoras do ser humano. Ela tem como conteúdo o amor, a capacidade de comunicar, de criar, a identidade e a vontade como pulsão, aquela força que leva o ser humano à frente. É importante saber que a espiritualidade faz parte do ser humano e que é recebida exatamente no mesmo dia em que se recebe o corpo e a capacidade mental, isto é, no dia da nossa concepção.

Então a espiritualidade é da natureza humana, ela antecede todo o conhecimento religioso e na espiritualidade um dos conteúdos é a capacidade de comunicar, nós podemos compreender que o ser humano comunica com o outro ser humano, comunica consigo mesmo que é a intercomunicação. O diálogo interno que nós temos pode também ser estabelecido com a realidade transcendente, com o sobrenatural que as religiões denominam como Deus.

Na medida em que o ser humano comunica-se com o transcendente, ele vai se aprimorando, se desenvolvendo, compreendendo o sentido da vida e aplicando tudo o que ela compreende. Contudo, isso é inato, as religiões vem e nos fornecem instrumentos que nos fazem comunicar de uma forma talvez mais adequada. Assim como as escolas nos ensinam conteúdos intelectuais, as religiões nos ensinam conteúdos de desenvolvimento da nossa espiritualidade.

As experiências místicas que são consideradas experiências sobrenaturais, experiências espirituais estão muito presentes na vida das crianças, justamente porque as crianças, sobretudo, até cinco anos de idade, não têm ainda um conteúdo desenvolvido sobre o que é Deus, imagem de Deus. Estas crianças, simplesmente, sentem algum tipo de espiritualidade e comunicam algumas coisas. Muitas crianças falam de amigos imaginários, relatam visões com certas pessoas que pareciam boas, que lhes prestaram algum tipo de ajuda. Tudo isso pode ser considerado uma experiência mística. É claro que há necessidade de investigação, porém, muitas investigações já constataram que realmente as crianças vivem experiências místicas.

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